Por Rose Lander
O racismo para com a comunidade chinesa madrilena existe. Já é hora de falar sobre o assunto.
Sempre me senti incómoda com a ideia de chamar às lojas que são propriedade de gente chinesa “chinos”. No Reino Unido, históricamente e infelizmente, atualmente também, é usado este tipo de linguagem racista para referir às mercearias que pertencem a famílias de imigrantes, por isso, tentei mudar o meu vocabulário, usando palavras corretas: alimentação e bazar.

Surpreendeu-me ver que alguns dos professores e alunos com quem trabalhava, brincavam em detrimento dos chineses, sem pensar duas vezes antes de revirar os olhos quando falavam de asiáticos numa conversa. Envergonha-me dizer que eu não lhes dizia nada, até que decidi fazer um documentário de áudio sobre o racismo com os chineses em Espanha.
Em fevereiro de 2020, publiquei no grupo de auxiliar de conversación en Madrid no Facebook. Perguntei se havia alguém que quisesse partilhar a sua experiência da xenofobia em España, e a publicação chegou a ter mais de 170 comentários.
Alguns responderam que nunca tiveram problemas, ou que o problema em Espanha não estava pior que nos EUA ou no Reino Unido. Outros contaram cenas de assédio moral pelas ruas, insultos e estereótipos. Alguns disseram que escutaram pessoas a referir-se a pessoas de descendência da Ásia oriental homogeneamente como “chinos”. Frases depreciativas eram comuns e recorrentes nas aulas como “falando chinês” quando parece que as tuas palavras não têm sentido. Outros responderam explicando que os comentários relacionados com o surto de covid-19 lhes dava medo e os fazia sentir-se inseguros.

Contactei com um homem de origem chinesa americana chamado Thomas Siu para falar de como foi agredido numa rua em Madrid depois de lhe terem gritado “coronavirus”. Os agressores deixaram-lhe com o crânio partido e um derrame cerebral. Meses após a agressão, quando falei com Thomas, disse-me que apesar de tudo, aprendeu sobre a importância de se defender com palavras. Quer divulgar a mensagem de que, se nos negamos a deixar que as pessoas façam piadas deste tipo sem qualquer tipo de repercussões, poderíamos, na verdade, prevenir mais agressões desse tipo no futuro.

Além de ouvir as perspectivas da xenofobia para com a comunidade asiática desde o ponto de vista dos estrangeiros, entrevistei uns adolescentes de origem espanhola, porque queria saber mais de como é crescer em Espanha se és chinês de segunda geração.
Quan Zhou é ilustradora e o seu trabalho está focado nos choques culturais das famílias espanholas e chinesas. A sua família veio para a Espanha nos anos 90, após a morte de Franco e um fluxo de migrantes internacionais. Hoje em dia, existem 215.000 chineses residentes, 195.000 dos quais nasceram na China. No entanto, nos anos 90, havia menos de 5.000 imigrantes chineses registrados e, segundo Quan, isto explica uma parte do abuso verbal que sofreu na sua infância. Quan explica que a única diferença que tinha com os seus colegas de escola era o que viam na televisão ou o que liam no jornal que, por várias vezes, era baseado em estereótipos.

Inclusive agora acredita que a maioria dos espanhóis não têm “amigos chegados migrantes” e que “não são conscientes de assuntos da identidade racial”. Falei com a presidente do SOS Racismo Madrid, Paula Guerra, que me relembrou que é importante considerar o contexto histórico em volta do racismo: o passado profundamente enraizado no colonialismo. Diz que “[a sociedade espanhola]” é inconsciente. Não entendem o quão racistas são e ficam irritados quando você os tenta fazer ver isso. [Isto é] fruto do controlo da Europa Ocidental.
Realçou que este é um problema pan-europeu, não só na Espanha. Desfazer séculos de racismo estrutural é “uma meta a muito longo prazo”, ainda mais se muitas pessoas não se apercebem do problema, explica Paula Guerra.

Mas ainda há esperanças. Quan Zhou acredita que “as coisas estão mudando porque as pessoas são cada vez mais conscientes dos imigrantes.” O seu trabalho despertou a atenção nos meios populares e foi incluído numa campanha de Levi ‘s. Este é o tipo de representação que gostaria de ver quando era pequena. “Antes, éramos invisíveis, mas agora não”, disse-me.
Espero que este documentário te seja revelador. Por favor, pergunta, comenta e fala. Continuemos com esta conversa.
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